22.3.14

maçã no escuro

a paixão é da ordem de coisas que se transformam, amadurecem. a paixão entendida como instituição, clareira sob a qual rostos são iluminados e palavras se ouvem facilmente. no primeiro caso, quando aos dezesseis anos vi a possibilidade de construir uma ligação com alguém, talvez fosse mais sobre me salvar. um sentimento capaz de me trazer situações inéditas, momento próprio da adolescência. grandes dores, grandes amores, achando que sofrer é amar demais. importante esse capítulo, no qual grande parte foi platônica - e mesmo assim recíproca. o que reclama os outros fenômenos de platão, estes parciais: aqui moram as paixões sublimes.

quando no meio da multidão alguém diz ter avistado o zé, algo se move entre o estômago, as pernas e a boca. os capilares das extremidades se contraem e resta o frio. aonde? aonde?? e o máximo que a inércia-passional-sublime me permite é um aceno distante. este sendo o estado de consumo total do sentimento. nada mais que isso - e pudera?! é aí que mora o imbróglio.

para além das borboletas alvoroçadas, para além de contrações estomacais e mãos geladas, há horizontes. um experimento anônimo está sendo feito, a construção de laços espaçados, de vontade intermitente, e não menos consistente. agora não mais na inquietude do socorro, nem na paixão solitária. se coloca um ponto de troca, entendimento complexo, vagar, lugar incomum. há espaços para questionar, curvas para caminhar e o encontro. a raridade é característica própria e dá sinais. não à toa chamamos de "estar à vontade", estar em função do prazer, do regozijo (!).  no entanto, se está no escuro. como o objeto que não se vê, ou sabe-se o nome. é possível tocá-lo, com segurança sentir suas arestas, reentrâncias e surpresas, mas ainda não há nome. uma maçã no escuro pode ainda ser chamada de maçã? a partir de que momento pode ser chamada pelo nome dos homens?

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